Do lado paterno, há os Buchmann, o trisavô alemão chegado ao Brasil em 1854, depois o bisavô Louis Buchmann, subindo a serra, instalando-se em Campo Alegre [SC] ao lado de São Bento, onde nasceu o avô Ernani, casado no melhor estilo folhetim, com direito a roubar a noiva, e fuga numa “tereza”.
O pai, Arino Buchmann, já morto, securitário, um expert em sua profissão, catarinense de Joinville. Foi mestre de Edmundo Lemanski, João Elísio Ferraz de Campos e Adolfo de Oliveira Franco Júnior, ao mudar-se com a família para Curitiba, no início dos anos 1960, para onde veio — com sólida reputação na área, adquirida na Companhia União do Comércio e Indústria, de Seguros Gerais, da qual era acionista.
De qualquer forma, ninguém como Ernani tem sabido cantar essa cidade. Tal como o fez no Onde me doem os ossos, livro indispensável [desculpas pelo chavão, mas é isso mesmo] para se entender a alma de Curitiba, os neurônios de sua gente, as vísceras de sua topografia humana e física, o DNA da outrora “aldeia sinistra” [como a apelidara o ator Baraúna de Araújo]. Trabalho enriquecido pelas ilustrações, capa e projeto gráfico do não suficientemente louvado Luiz Solda, com cuidados editoriais exemplares de Marcio Renato dos Santos.
Pois assim é Ernani, homem típico desse Sul que parece — lembrando expressão de João Paulo II sobre a cidade que o recebeu em 1980 — “uma radiosa manhã de pentecostes”: fala todas as línguas, constrói entendimentos, embora num aparente ensimesmar-se.
E como foi estruturado esse Ernani?
Os heróis da Liberdade, O Ponta Perna de Pau,Onde me Doem os Ossos, Quando o Futebol Andava de Trem... (Arquivo)
O verbete Ernani Buchmann há de registrar sua passagem pela Exclam, de Hiram de Souza, na qual ficou por nove anos, e da qual depois se tornaria sócio, em 1982, com Antônio de Freitas e Rubens França. E tudo começou porque em pouco tempo criou e apresentou para um cliente exigente, a Volvo Internacional, uma campanha totalmente em inglês. E depois, outro traço biográfico precioso: criou com Antônio de Freitas a Master Comunicação.
Síntese sulista
Uma certeza ficará em quem se aproxima de Ernani e sua obra: está-se diante de uma boa síntese do homem do Sul, do curitibano em particular, dotado de contenção e senso de autocrítica às vezes exagerados. E não deixa dúvidas: ele está entre os que têm grande intimidade com a memória contemporânea de Curitiba, que decifra em seus contornos humanos e físicos irreplicáveis. Conhece os nomes e os sobrenomes de seu patriciado e os feitos dos personagens da cidade destes últimos 40 anos. Justamente o período em que a cidade, para o bem ou para o mal, perdeu o recato provinciano e tornou-se vertical, conquistou subúrbios e acolheu multidões que a mudaram. Para uns, foi quando se desfigurou; para outros, quando se modernizou.
Wasyl Stuparyk ou Basílio Junior