Ao receber adesões de políticos, estudiosos e empresários, registrava-as nas páginas do jornal, comprometendo o apoiador a levar até o fim a palavra dada ao público. A prática tinha também um segundo efeito – homens do poder e afins, naturalmente responsáveis pelas grandes questões do estado – podiam não aderir. Mas bem que ficavam desconfortáveis com a omissão. As campanhas, afinal, eram conduzidas com a mesma empolgação trazida por Cunha Pereira dos tempos de juventude, quando dirigiu o diretório acadêmico do curso de Direito da UFPR.
Não era tudo. Além de saber o lugar, a hora e as parcerias certas para abrir campanha era preciso despertar o interesse dos leitores. Não poucos podiam julgar que energia, industrialização, pontes e estradas de ferro eram assuntos para governantes e não para gente comum. Para tanto, nada como palavras capaz de empolgar a população. Para dar tempero aos projetos encampados pelo jornal, Cunha Pereira os popularizava com expressões como “Maldição do nevoeiro” – no caso da falta de equipamentos no Aeroporto Afonso Pena -; “Poço da discórdia” – a propósito do petróleo dividido com Santa Catarina no Mar Territorial; ou “Holanda às avessas” - jargão que tão bem definiu o estupor diante de um Paraná alagado pelas hidrelétricas.
A esse segredo somava outro, infalível – mais de uma vez assumiu ele mesmo a frente de batalha, dando uma cara e uma voz ao projeto. Nessas ocasiões, era apontado nas ruas, cumprimentado por populares, abordado nas bancas de jornal e nos cafés da Rua XV, espaços onde as bandeiras que defendia viravam o prato do dia.Tanto empenho tinha seu preço. Além de sustentar as campanhas anos a fio em seus veículos – sob o risco de não vê-las realizadas ou de cansar leitores mais imediatistas – fazia-se presente nos grandes debates da sociedade, como cidadão e homem de imprensa. Da mesma forma, sem cerimônia, podia se negar a participar de algum evento cuja natureza fosse contrária aos interesses do estado. Não foram poucas as recusas.
Gazeta do Povo, o espaço que guarda a história de suas causas
Nos momentos de maior tensão, a posição de Cunha Pereira podia ser conferida nos editoriais da Gazeta do Povo – espaço que guarda a história de suas causas. Foi ali que tripudiou o que chamava de “migalhas dadas ao Paraná”, estado que com tanta generosidade ofereceu à União suas riquezas, melhores terras e belezas como as Sete Quedas do Iguaçu. Com a mesma altivez, clamou por investimentos em educação, redução da miséria, geração de empregos e industrialização. Nos editoriais da página 3, festejou vitórias, como a dos royalties, e lamentou o desinteresse pelo projeto do gasoduto e a apatia de muitos paranaenses em frente de um mundo em transformação. “Vamos ser um estado eternamente agrícola?”, perguntou de certa feita, sabedor da fragilidade do campo em gerar empregos.
No mais, era manter o ânimo da tropa. Os jornalistas que encamparam com Cunha Pereira as causas paranistas tinham de estar dispostos a enfrentar cabos-de-guerra que se estenderiam por 10, 15 e até 20 anos – esbarrando na burocracia, na frieza, na ignorância e até no pouco caso estatal. Mas havia algo mais do que pedras no meio do caminho. Os que fizeram das campanhas uma causa para chamar de sua festejaram o salto triplo dado em 3 de agosto de 1986. Nesse dia, a Gazeta chegou à marca de 100.250 exemplares - reconhecidos pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC) -, a 144 páginas e a 90,3% de índice médio diário de leitura de jornais por trimestre no Paraná, de acordo com Ibope Marplan.