Meu pai trabalhava em 4 empregos diferentes e quase não o víamos. Minha mãe, apesar de ter se formado em Letras e lecionado em Joinville quando solteira, – coisa rara ainda em sua geração – decidiu em comum acordo com o marido que se dedicaria aos filhos . E hoje tenho certeza : foi graças a esta decisão que tivemos uma infância tão feliz !
Lembro-me dos dias de chuva em que escolhíamos um livro da coleção “O Mundo da Criança” e ela lia para nós os Contos de Fadas: chorávamos com as agruras do Patinho Feio , da Cinderela e do João e Maria , prisioneiros da Bruxa Má,dormíamos sonhando com as aventuras do Barão de Munchausen e do Pedro Malasartes e acordávamos certos de que a Bela Adormecida também acordaria. Esta história era a minha favorita, e lembro que, nas férias, quando não viajávamos, fazíamos teatros das histórias ouvidas.
Minha mãe Luiza então “liberava” uma grande caixa de vestidos de festas e outra de chapéus e acessórios. Nós nos vestíamos com aquelas maravilhas e imediatamente nos transformávamos em princesas , madrastas, bruxas... Meu irmão , certa vez , rasgou uma linda capa de veludo cor de vinho no meio do milharal que havíamos plantados nos fundos de casa, e o príncipe se transformou em mendigo...
Outras atividades das férias eram os desfiles de “Miss Brasil” com as bonecas Estrela ganhas no Natal: as outras mães das amiguinhas da rua também se desdobravam costurando trajes de banho, social e fantasia, e a “Miss Brasil” era escolhida com direto a coroa, cetro e desfile.A minha boneca Silvana certa vez foi a vencedora, com fino traje azul-turqueza!
As músicas eram fornecidas pelo toca-discos gigante onde os elepês das Coleções Reader´s Digest rodavam tocando Mambo-Jambo ou –a preferida _ a “Valsa dos Patinadores.
Aliás, a “Valsa dos Patinadores” era fundo musical de “shows de dança” na sala de_ jantar enquanto não chegavam os móveis “Chipandale” encomendados no Paciornik...colocávamos três pares de meia sobrepostos e delizávamos: e até enxergávamos neve!
Quando viajávamos, então, a aventura era grande: meu pai colocava todos no carro (primeiro um Austin , depois um Volkswagen e por último uma Rural Willys e um Opala )depois que minha mãe preparava estoques de alimentos . Sim, estoques de alimentos como leite em pó, leite condensado, etc, etc, porque não sabíamos o que encontraríamos pela frente: quando a ponte da Amizade foi inaugurada, nos lançamos em uma “epopéia” até Foz do Iguaçu!
Outra “epopéia” era a viagem ao sítio dos avós maternos, Joanita e Victor Grein. Não, não era muito longe, situado próximo a Teixeira Soares, mas as estradas barrentas é que não garantiam a chegada! E ficar encalhados, procurar ajuda, almoçar com os caboclos era ,para nós, a verdadeira aventura. Quando nosso carro passava todos corriam ver porque ninguém aparecia por lá há meses...