E qual função o senhor prefere ocupar: diretoria na produtora ou na RPC?
Nos dois empregos tem um ponto que eu não gosto, que é a burocracia. Mas aqui é menos que lá. Lá eu tinha de responder por tudo. Aqui eu respondo só pela parte de jornalismo, o que é mais fácil. Lá eu tinha de por dinheiro para dentro, aqui muito pelo contrário, eu não devo colocar dinheiro para dentro. O jornalismo não tem nada a ver com a parte comercial e na produtora eu tinha de fazer as duas coisas e eu não nasci para isso.
O senhor disse que não gosta da parte burocrática. Mas, um colega seu, o Gil Rocha, disse que sempre o conheceu como chefe. O senhor sempre ocupou cargos de chefia? Isso foi uma escolha?
Eu preciso confessar um negócio. Eu já fui redator de esporte, locutor de rádio, fui rádio escuta, repórter de TV, de jornal, editor e produtor. Então, é aquele negócio, se você entra numa área e não funciona direito o camarada vai e te muda de posição. E, como eu não fui bom em nada disso, me colocaram como chefe, porque chefe só serve para atrapalhar a vida das pessoas [risos]. Na verdade, eu acho que foi coincidência ter assumido chefias muito cedo. A primeira chefia que eu assumi foi no "O Diário do Norte do Paraná", em 74. O chefe era o Rubens Ávila. Ele saiu do jornal e, por necessidade, tive de assumir o lugar dele. Depois, voltei para "TV Tibagi", de Apucarana, como chefe e fui ficando. Realmente, o que me incomoda na chefia é a burocracia. Mas tem a oportunidade de você conversar com as pessoas, valorizá-las, trabalhar com gente, eu gosto muito e acho que sei fazer razoavelmente bem.
No ano passado o senhor fez o curso Master de Jornalismo para Editores. Este ano outros editores da RPC também estão fazendo. É uma exigência da Rede Globo ou foi iniciativa sua?
É uma coisa da RPC. Um dos fundadores desse curso, o Guilherme Cunha Pereira, é vice-presidente da RPC. Antes de ele vir para cá, ele dava aulas na Cásper Líbero, de São Paulo. Quando ele veio, houve um interesse pelo curso e a TV começou a mandar seus funcionários, pois é um curso que faz a gente pensar na responsabilidade de fazer jornalismo.
Falando em responsabilidade de fazer jornalismo, nessa área muitos programas, que se dizem jornalísticos, estão cada vez mais sensacionalistas e comerciais. Na RPC vocês seguem outra política, separando o jornalismo da parte comercial. O senhor acha que a tendência é vocês terem de ceder ou esses programas terão fim?
Eu espero que a nossa linha prevaleça nessa história toda. É uma questão de empresa. A RPC busca ganhar dinheiro em cima da prestação de serviço. O jornalismo tem total independência. Nós acreditamos que esse tipo de comunicação séria é que dá credibilidade para a empresa. Essa credibilidade se torna audiência confiável, as pessoas começam a acreditar no nosso trabalho porque vêem que fazemos um trabalho sério. A partir desse momento, os anunciantes querem anunciar na empresa. A gente acredita que essa postura de misturar o jornalismo com o comercial vai durar pouco tempo. Por isso, apostamos nessa linha de construir uma aproximação com o telespectador.
Como o senhor vê o futuro do jornalismo com essa ameaça da perda do diploma e com a quantidade de informações que a internet disponibiliza?
São duas situações diferentes. Sobre a perda do diploma eu acho que existe um certo corporativismo. Não é o diploma que faz o jornalista. O diploma é hoje um mal necessário para evitar a entrada de picaretas no mercado de trabalho. Mas, qualquer picareta também pode fazer o curso de Jornalismo. Agora, em relação à Internet, eu acho que ela ainda não achou o seu caminho, mas em termos de potencial acho que o nosso futuro vai estar nela. É o melhor processo que existe para democratização de informação. A própria televisão vai ter de trabalhar com a internet. Eu vejo que TV, internet e telefonia celular vão virar uma coisa só no futuro. Hoje a internet pode ser considerada um problema, mas no futuro vai ser um caminho, como foi a televisão há 50 anos.