O moço maravilhou-se, já nos primeiro momento –
não com o cenário físico do escritório de Salvador, que
era austero – com as lições recebidas e também com as
companhias de outros causídicos de grande porte, que
já formavam, ao lado do criminalista de Maio, o “creme”
dos advogados curitibanos. Eram eles vizinhos e parceiros
no mesmo edifício – Élio Narézi, Augusto Prolik, Flávio
Leite D’Avila.
Curiosamente, na Faculdade de Direito da UFPR Dotti
escolhera o Direito Civil como “primeira opção”. E
em 1958, produziria tese mostrando seu interesse pelo
cível: “A responsabilidade civil por atos praticados em
estado de necessidade”. Em síntese, a tese sugeria a
necessidade de existir seguro obrigatório para automóveis,
diante de situações em que se poderiam reclamar
indenizações materiais. Assim ganhou o concurso de
teses da escola.
Começa a defesa dos perseguidos
Em 1961, no mesmo Edifício Azulay, ficando próximo
ao mestre Salvador de Maio e aos outros advogados
– Prolik, Narezi, D’Ávila – estabelece-se sozinho, numa
sala pequena, acanhada, banheiro no corredor. A sala
de espera não existia, não havia espaço. Os consulentes
esperavam sentados no corredor, duas cadeiras. Uma
porta vaivém (ou de saloon de faroeste) era a separação.
Nem sonhar com recepcionista.
Ali, dois dias depois do início do movimento militar
que levou Castello Branco ao poder – 3 de abril de 1964
– Dotti iniciaria o sacerdócio da defesa dos perseguidos
políticos, dos acusados de “subversão” e de infração a
uma lei draconiana, a de Segurança Nacional, utilizada
e manipulada para punições a mancheias dos que simplesmente
se opusessem ao regime.
A peregrinação de Dotti em defesa de jornalistas, escritores,
sindicalistas, professores, militares, estudantes,
começaria em 1964, indo da Auditoria Militar da
5ª Região Militar, em Curitiba, a escalões superiores,
como o STM. E só terminaria em 1981 quando, alinhado
a outros campeões dos direitos civis – Heleno Fragoso,
José Carlos Dias e Marcelo Cerqueira, por exemplo –
consegue a absolvição dos sete estudantes catarinenses