Estamos diante de uma padaria realmente moderna, a melhor da cidade, aquela que abastece aniversários nos palacetes do Batel e fornece buffets de casamento. Toda envidraçada para que os clientes possam acompanhar o trabalho dos padeiros com seus aventais brancos. Tem forno elétrico, muito metal brilhando e uma mercearia bem abastecida com produtos nacionais e importados. Antes das 5 horas, Gebran abre a porta de aço, os empregados entram dizendo bom-dia.
Quando o irmão Thomé ou o cunhado Naim aparecem, Gebran volta para casa para terminar a noite mal dormida. São oito horas. O comércio acorda para expor suas vitrinas aos primeiros senhores engravatados que passam para o trabalho. Zake Sabbag está chegando à Magazine & Enxovais para mais um dia de negócios.
Na hora do almoço, a família se reúne à mesa. Nos dias comuns há feijão, arroz, macarrão, lentilha. De vez em quanto, a mãe Maria capricha na comida árabe. É muito louvado seu quibe assado com castanhas, assim como os bolinhos fritos com iogurte.
Depois do almoço vai direto para cama. Dorme até às quatro e meia da tarde, quando definitivamente começa o dia, porque, às cinco e meia, entra no ar seu programa Um Piano ao Entardecer pelas ondas curtas e médias da PRB2, Rádio Clube Paranaense. Às oito, Gebran vai a pé da rádio, que fica na Barão do Rio Branco, até o Restaurante Paraná, no número 273 da Rua XV. Nesse restaurante, que funciona das 18 às 21 horas, ele janta sozinho todos os dias. Gosta da sopa húngara, que ganha cor de cobre devido à páprica. Saboreia o filé mignon com purê de batatas e ervilhas. Mas nada se compara ao grand finale: a enorme Bomba Centenária, com muito chocolate e glacê.
Neste horário em dia de semana, a agenda cheia de Gebran não permite que ele faça algo de que gosta muito: ir ao cinema. Nos fins de semana, porém, ele e seu irmão Thomé têm um roteiro. Quando chega a noite, os dois jantam rápido e se arrumam – roupa social com gravata ou esporte fino. Então, pedem dinheiro ao pai e saem para pegar a primeira sessão, das oito, no Cine Avenida, com seus filmes de faroeste como “Duelo ao Sol”, no chique Cine Ópera – que pode estar exibindo algum musical da Metro – ou no Cine Imperial, todos ali entre a XV de Novembro e a praça Osório.4 Compram uma pipoca do lado de fora do cinema e, antes de começar
o filme, suportam os cine-jornais em que as informações da Guerra da Coréia chegam com seis meses de atraso. O cinema lotado não impede que alguns mais exaltados joguem sapatos no telão nesta hora e protestem contra as partes bregas dos filmes batendo com força os pés no chão. Gebran e Thomé ficam apreciando o lindo rosto de Ava Gardner no filme “A Bela e o Renegado”, no Cine Ópera.