Wasyl Stuparyk ou Basílio Junior
Matéria do CADERNO G do Jornal GAZETA DO POVO
de 17.03.2013 - SANDRO MOSER
EM MEMÓRIA DE VALÊNCIO
Almir Feijó
A Gazeta do Povo publica hoje uma homenagem a Valêncio Xavier. Ele faria 80 anos. Fomos amigos por três décadas. A última vez que nos vimos foi, emblematicamente, na Biblioteca Pública do Paraná. 'Você é mesmo o... o...' - disse. 'Almir, Valêncio'. Não fez a menor diferença. Já estava consumido pelo Alzheimer. Logo ele, um memorialista; um cara de imagens e sons, nomes, títulos, movimentos. Morreu de câncer perto do Natal de 2008. Doce figura.
Em 81, pensou, garimpou, cortou, escreveu e colou na mesa da sala da casa no Ahú: O Mez da Grippe. E tantos livros, raccontos e poemas. A morte como o tema, mais fetiches, prostitutas, incesto. Como nas escrituras ou em DT.
Fez a cidade experimentar o cinema. O Corvo, Os 11 de Curitiba. No jornal, colega brilhante e “difícil”. Na casa sempre aberta, enrustia os livros que minavam o orçamento. Levava os filhos à praia ou aos sebos de São Paulo em dia de aula. Aos sábados, chá e duelos ao sol com o grande amigo: Poty era John Wayne roxo. Valêncio torcia por John Ford. Sacudiu a cidade até que, como quem conhece os atalhos de um sebo, o tempo soube escolher na poeira uma de suas cabeças mais raras.
VALÊNCIO XAVIER E OS ANJOS
Texto de ALMIR FEIJÓ
Interpretação de PAULO BRANCO
Sonoplastia de WASYL STUPARYK
Homenagem a Valêncio Xavier
Não tivesse existido seria preciso inventá-lo. Em qual caneta, entretanto, o nanquim senão na própria?
Valêncio Xavier Niculitcheff nasceu há 80 anos (21/03). Filho de russo da curva do Volga. A mãe morreu e o “menino mentido” chegou em Curitiba em 54. Foi à França. Bateu carteiras com Bresson, usou o vaso com Duchamp e passou a mão em Brigitte. De volta, jogou em todas. Galã. Conheceu Luci no interior. Flerte, altar e São Paulo. Redator dos primeiros “ais” de Silvio Santos na tevê. Cidade contra a Cidade. Na publicidade, os brinquedos Estrela.
De volta. Canal 6. Canal 12. Histórias Que a Vida Conta. Globo Repórter fase Cinema Novo. Na literatura, o rato de sebo chegou “aos cornos da lua” (a medida da própria glória).
Maciste no inferno
Mesmo a Luz mortiça das quatro horas da tarde me cega. Já não escuto o piano quando todos começam a sair da sessão já estou escutando o barulho das cidades das casas das vozes dos automóveis dos ruídos. Sou novamente parte da cidade e ninguém me vê.
(XAVIER, 1998, p. 136)
“Valêncio do Cinema”
Fotografia, publicidade, jornalismo, televisão, literatura, desenho, gravura, pintura. Sobretudo, cinema. Autor, cinéfilo, pesquisador, produtor, incentivador, pensador. “FAN DO BOM CINEMA! Temos uma notícia que vai lhe agradar: no dia 23.04 (de 1975) a Fundação Cultural de Curitiba inaugura a Cinemateca do Museu Guido Viaro, na rua São Francisco, 319”.