GAZETA DO POVO
CADERNO G
Memória
O mundo cultural de Aramis Millarch
Acervo com 572 entrevistas do jornalista e crítico paranaense é resgatado e relançado em DVD
Publicado em 29/11/2009 | Cristiano Castilho
Era uma casa muito engraçada a do curitibano Francisco Millarch. No sofá da sala de estar da residência, que ficava ali na rua Visconde do Rio Branco, entre a Vicente Machado e a Carlos de Carvalho, um sujeito chamado Vinicius de Moraes se atracou em em um copo de uísque e desatou a falar. Noutro dia, um outro, apelidado de Toquinho, dedilhava um violão. Com seus 10 anos, o garoto acompanhava tudo e reparava que o que havia em comum entre esses artistas que integravam o time titular da MPB em 1970 e outros personagens que visitaram o espaço – políticos, cineastas, atores –, era um gravador sobre a me¬sa. Sempre com a luz vermelha acesa.
O privilégio de Francisco foi ter nascido filho de Aramis Millanch, jornalista e um dos primeiros e principais críticos de música e ci¬nema do Paraná. Com¬¬pulsivo por informação e entrevistas, Aramis (1943-1992) criou em seus 32 anos de profissão um dos maiores acervos culturais do Brasil, “sequestrando” os artistas que passavam por Curitiba – antes e depois dos shows – ou os interpelando no aeroporto. Mas, em vez da insistência incômoda para conseguir palavra, utilizava a elegância e o bom humor que lhe eram característicos. O resultado foi um punhado de amigos “famosos”, 4 mil fitas com entrevistas, que somam 720 horas de gravação – cerca de uma hora e meia de conversa com cada entrevistado – e 572 personalidades nacionais retratadas. Estão lá Gilberto Gil, Cartola, Francis Hime, Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Ana Botafogo, Jamil Snege...
Carreira
Saiba mais sobre Aramis Millarch e a coleção 30 anos de Jornalismo Cultural:
Paiol
Em 1971 Aramis Millarch descobriu o telefone do vizinho de Vinicius de Moraes, na Bahia. A ideia era convidá-lo para a inauguração do Teatro Paiol, em 1971. Dois dias depois, Vinicius e o Trio Mocotó confirmavam presença no evento.
Cartola
Educado e bem-humorado, Aramis fez de entrevistados, amigos. É o caso de Cartola, que o chamou de “amigo do peito” em uma carta enviada na ocasião do 72º aniversário do jornalista.
Tesouro perdido
Seu acervo de mais de 30 mil LPs – basicamente de música brasileira e jazz – foi vendido a um colecionador norte-americano no início dos anos 2000.