O material em áudio também ficará disponível, por dois anos, no site www.millarch.org, a partir do dia 1.º de dezembro, data do lançamento do projeto patrocinado pela Petrobras e viabilizado pela Lei Rouanet.
“Até 1981, as entrevistas eram feitas na minha casa. Os artistas iam jantar depois dos shows e algumas conversas têm interrupções e ruídos diversos, porque o gravador ficava ligado o tempo todo”, diz Francisco Millarch, hoje aos 37 anos.
“Chico” era criança, mas talvez seu pai soubesse que dormir era menos importante do que presenciar as visitas ilustres. “Eu ficava até de madrugada com os entrevistados. Sentei no colo do Vinicius, inclusive, e meu pai dizia que eu fiz uma música em parceria com ele, já que pronunciei algo e o Vinicius começou a cantar, improvisando”, relembra Francisco. Outra das raridades recuperadas é a entrevista com a cantora Maysa. A conversa foi a última registrada antes do acidente automobilístico que mataria a artista, em janeiro de 1977.
Aramis Millarch vivia em seu mundo de 32 mil discos e 5 mil livros. Ele escreveu cerca de 50 mil artigos para mais de 20 periódicos. Sua compulsão pela informação era tanta que, ainda jovem, quando não havia material de imprensa sobre os filmes em cartaz, Millarch ia assistir às sessões e anotava todas informações técnicas do filme para utilizá-las em suas resenhas.
“Desde cedo, meus pais me levavam para assistir a tudo. Cinema, teatro, shows. Eu não tive uma infância típica, mas também não virei tiete de ninguém. Como meu pai, conheci todas essas personalidades como pessoas normais”, diz Francisco, hoje empresário.
O produtor Samuel Lago destaca o senso de percepção de Aramis, que viveu a ebulição da bossa nova e a consolidação da MPB tradicional. “Ele viveu essa época e teve oportunidade de vagar por esses ambientes diversos. Mas era amigo dos artistas e sabia como eles pensavam. Não era uma relação profissional, e sim de amizade”, diz, revelando também o modus operandi do jornalista. “Sua produção era caótica. Ele gravava entrevistas em diversas fitas e tivemos que remontar tudo.”
Francisco Millarch define o acervo, agora resgatado, como o mais importante legado de Mil¬¬larch além de suas matérias. As circunstâncias únicas de gravação e os depoimentos interessantes de artistas que só seriam unanimidade anos depois comprovam a teoria. Chico ainda lembra que, em sua casa, ali na Visconde do Rio Branco, sempre “entrou e saiu muita gente”. Gente como Elis Regina, Pixinguinha, Tetê Espíndola, Valêncio Xavier...