Jornalista Machado Neto, entrevistando Hermógenes Bartolomei!
Histórias no Futebol
Jornalista Machado Neto
Jornal Diário do Paraná
Curitiba, Domingo, 26 de Novembro de 1967
Poucos são os jogadores que deixam um nome gravado, como aconteceu com o de Hermógenes,
arqueiro que pertenceu ao Palestra Itália de Curitiba e que á ainda hoje considerado como um
dos maiores guarda-valas que o futebol paranaense já conheceu. Homem realizado , de fala
calma e ainda conservando a elegância, que é característica dos arqueiros, fomos encontra-lo
na Associação Paranaense dos Criadores Bovinos, onde desempenha sua atividade. Para entrar
no assunto não foi difícil, pois o futebol é realmente esporte que empolga.
Menino ainda.
<<Comecei menino no futebol>> - respondeu-nos Hermógenes Bartolomei a nossa primeira
pergunta - <<pois desde cedo sentia atração pelo futebol, principalmente após o feito do Brasil
no Sul-americano, quando muitos garotos de minha época resolveram praticar o futebol.
Comecei com 14 anos de idade, nos idos de 1919, atuando pelo quadro infantil do Internacional
de Aníbal Requião, do velho Guimarães , do Bimba, de Clarito, do Murilo e tantos outros. Fiquei
lá até o dia que achei que não tinha mais lugar pra mim no Internacional, pois já me julgava bom
de bola. Passei então, para o Universal da Liga Paranaense e consegui ser campeão em 1920. No
ano seguinte foi fundado o Palestra Itália e fui convidado para integrar sua equipe. Ingressei
no clube esmeraldino e de lá não saí até que abandonei o futebol, isto em 1928, quando resolvi
casar, Neste período sempre fui titular no Palestra>>.
Seleção
- Quanto tempo jogou na Seleção Paranaense? << No meu primeiro ano de Palestra já fui
titular do selecionado paranaense, isto quando contava com apenas 16 anos e 6 meses
de idade, daí para frente sempre fui o arqueiro até abandonar o futebol. Por sinal,
muitas vezes ficava abismado como era o titular quando assistia um Romano jogar, que
sem dúvida alguma foi um; extraordinário guarda-metas. Minha estréia na seleção foi
contra os chamados “bárbaros sul-americanos” como Friedereich, Bianco, Neco e
tantos outros “cobras” da época que trouxeram para o Brasil o cobiçado título...
Diferença
Sobre a diferença do futebol de sua época para o atual, disse-nos que <<a diferença é pequena.
Notou-se mais nas regras de futebol, pois na minha época era mais difícil para os avantes
chegarem na meta, onde o impedimento era anotado quando o jogador não tivesse três atletas
contrários à sua frente. O futebol de antigamente era jogado mais no valor individual de cada
defensor. Cito, por exemplo, o Britânia que tinha muito melhor ataque do que defesa, e a base
de seu jogo era através da velocidade de um Maximino do tanque (rompedor de área) que era
Zito, da inteligência de um Joaquim do individualismo de um Faéco, um dos maiores fintadores
que já conheci. O Atlético tinha como jogador base, o Marreco. Aliás, ainda hoje, dizem que os
clubes perdem ou ganham em função de um jogador, como foi à alegação dos corintianos de que
perderam domingo para o Palmeiras porque faltou o jogador Dino. O futebol mudou muito pouco
daquela época para a atual>>.