Quando trabalhava no Rio, o senhor participou da organização de diversas coberturas especiais, como as eleições de 1985 e 89, Olimpíada de 88, visita do papa João Paulo II ao Brasil e a Eco-92. Qual o senhor mais gostou?
Talvez a mais interessante foi a eleição de 1985, pelo trabalho realizado. A gente montou uma estrutura que cobria todas as capitais e foi um trabalho enorme, pois ainda não havia urna eletrônica. Outra foi a cobertura da eleição de 89, porque ninguém no Brasil sabia cobrir uma eleição presidencial, pois era a primeira eleição direta depois da ditadura. Então, entramos numa cobertura que não sabíamos direito o que era. Nenhum de nós tinha noção do que era cobrir uma eleição presidencial, foi todo um processo de aprendizado. Estávamos com 14 estúdios ao vivo em todo o Brasil. Coordenar tudo isso foi uma operação de deixar a gente maluco, mas foi muito legal.
Comparando a qualidade do jornalismo do Rio com o de Curitiba quem se sai melhor?
Em qualidade técnica, evidentemente a Globo tem recursos infinitamente maiores. Mas, em termos de qualidade de conteúdo depende das cabeças. O momento que estamos vivendo na RPC é um momento de discussão de conteúdo, um momento que a gente não tinha na Globo. Hoje, das afiliadas da Globo, a Rede Paranaense é uma das que têm maior preocupação na qualidade de conteúdo. Nesse aspecto, a RPC de hoje é melhor que a Globo do tempo em que eu trabalhava lá. Mas, da mesma forma que a RPC mudou, a Globo também mudou. Principalmente, em termos de qualidade editorial, de pensar naquilo que está fazendo como uma função social.
Então, antes a gente podia dizer que, de certa forma, a Rede Globo era engajada politicamente?
Não é que era engajada. Como não havia uma preocupação coletiva, isso permitia que algumas pessoas colocassem o interesse pessoal acima da informação. Por exemplo, hoje, aqui na RPC, se eu quiser colocar no ar uma notícia que é contra os princípios éticos da casa, o grupo todo vai me cobrar. Então, mesmo que eu quisesse, não poderia, porque, existe uma estrutura, uma consciência para evitar isso. Na Globo, no final dos anos 1980, não havia essa consciência coletiva. Não havia em emissora alguma do Brasil. Isso permitia que algumas pessoas pusessem uma informação que na verdade era de interesse pessoal, partidário, político e não do interesse público.
Por que o senhor voltou ao Paraná?
Quando houve a troca de direção do jornalismo da Globo, com a saída do Armando Nogueira e a entrada do Alberico Souza Cruz, houve um racha dentro do jornalismo. Várias pessoas saíram da Globo em solidariedade ao Armando Nogueira. Por várias razões eu era muito ligado a essas pessoas, mas fiquei no Rio. Depois, três dessas pessoas abriram uma produtora de vídeo em São Paulo. Essa produtora cresceu e eles pensaram em abrir uma filial em Curitiba. Como eu era do Paraná, eles me chamaram para dirigir aqui. Eu estava meio inseguro quanto à violência do Rio de Janeiro e optei por voltar. E fiquei oito anos na GW.
E por que decidiu voltar ao jornalismo da RPC?
Eu nunca imaginava voltar para cá. Em 2000, houve uma mudança no [quadro de] pessoal da RPC e a Globo me indicou para assumir a equipe. No primeiro momento não queria, mas como jornalismo está no sangue resolvi voltar.